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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Crônica: Os 4 Is da Inovação!

* Sérgio Mascarenhas

O mecanismo do processo inovativo tem uma estrutura que está ligada à dinâmica do funcionamento da própria Inovação. É o que procuraremos discutir nesta crônica. Em primeiro lugar, chamamos atenção para a conceituação que todos os sistemas, por mais complexos que sejam, terão sempre duas grandes sub-estruturas: Sua Anatomia e sua Fisiologia. Usando o conceito de que todos os processos podem sempre ser bio-modelados, essa divisão é obvia. Chegados a essa rota conceitual é obrigatória a introdução da Evolução como um processo vinculado necessariamente ao modelo epistemológico a ser introduzido para discussão da Inovação até aqui.

O cenário nos parece bem construído, mas surgem de imediato as questões mais duras e difíceis: como fazer essa análise tanto da Anatomia como da Fisiologia da Inovação? Minha proposta: a própria Anatomia requer e induz uma Fisiologia! Parece uma resposta tautológica? Mostrarei que não, de uma maneira muito simples: usando uma metáfora linguística. A estrutura compõe-se de quatro letras iguais conotando ao mesmo tempo a Anatomia e a Fisiologia. Tomo quatro letras I maiúsculas indicativas dos seguintes processos: I de Invenção; I de Imitação; I de Interdisciplinaridade e I de Imperfeição.

Essa estrutura (Anatômia) contem interações que são a própria (Fisiologia) subjacente ao processo global da Inovação! E contém forçosamente também a natureza evolutiva da Inovação. Invenção é o primeiro salto para o Universo Inovativo. Pensem num feto humano, por exemplo. Constituído o embrião, ele se reinventa continuamente apesar de altamente vinculado pela sua genômica, mas esta, também através de interações com o ambiente externo, recebe continuamente estresses evolutivos e cria-se um sinergismo evolutivo.

Imitação é fundamental como uma fonte de conhecimentos e informações muito econômicas, sob o ponto de vista de gasto energético, isso é, da termodinâmica do processo de aprendizagem e aquisição de conhecimentos que o alimentam. Todos nós sabemos da sociologia a tremenda importância da Imitação no processo evolutivo. Mas as várias fontes disponíveis de informação e conhecimentos exigem que a diversidade dessas mesmas fontes ocasionem vantagens comparativas entre os processos evolutivos: quanto mais ricas as disciplinas, áreas, fontes de conhecimento, sua Interdisciplinaridade, maior será tanto a taxa como a quantidade e mesmo a qualidade da Inovação!

Chegamos agora ao que considero o componente mais importante dos Is: o que está ligado à Imperfeição. É esse fundamental elemento que introduz a Complexidade nos sistemas inovativos! Suas bifurcações conduzem a processos de enorme não-linearidade através das incertezas inerentes à sua própria natureza intrínseca e isso leva à Complexidade conceito fundamental que afeta tanto a Anatomia como a Fisiologia obrigando-as a varrer o espaço das fases das suas configurações em um riquíssimo processo espaço-temporal.

As inovações funcionam como atratores-caóticos das quais o próprio sistema pode gerar novas inovações! A perfeição é estagnante, mas a Imperfeição gera novas trajetórias continuamente. O mundo das incertezas é o mais rico e inovativo dos disponíveis para qualquer sistema, seja um grupo social, uma estrutura econômico-financeira ou qualquer outro sistema material. Faço então uma paráfrase à Descartes: Erro logo Existo!

* Sérgio Mascarenhas é professor e coordenador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP).

Fonte: Jornal da Ciência.

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